A Mina de São Domingos é um sítio delicioso. Pelo menos assim o achávamos. Perdido no
interior alentejano, onde as estradas serpenteiam numa dolorosa dança, chegar
até lá é árduo. O sol queima empenhado o metal do carro durante toda a viagem e
quando se deixa o conforto do ar condicionado e se saí para fora é difícil não
soltar um foda-se.
Nos primeiros anos andávamos apaixonados pelo sítio.
Queríamos tanto encontrar um lugar só nosso que foi muito fácil adotar a Mina. Gostávamos da calma, da simplicidade de tudo, dos
preços, das pessoas, da falta de rede no telemóvel e do isolamento a que
estávamos confinados. Fascinámo-nos com os despojos industriais, a água sempre
quentinha, o encanto da pizzaria cheia numa terra isolada, as escolas enormes
para poucos alunos e o circo saltimbanco que durava umas quatro horas. Ela emocionava-se
no cemitério inglês e deliciava-se com qualquer gaspacho que lhe servem e dava
o peixe frito ao Gabriel que o comia com o seu ar de esquilo a dar dentadinhas
numa bolota.
O pôr-do-sol batia tudo. No pequeno areal conseguíamos estar
a tomar banho com o sol a despedir-se, a luz do dia a desvanecer-se por trás
das arvores da tapada. Era um momento pelo qual valia a pena fazer toda aquela
viagem. Era o instante em que percebíamos que aquela era também a nossa casa.
Mas este ano já não sentimos o amor habitual. A falta de
novidades e de interesses que pudessem ser explorados deixou-nos aborrecidos.
As mesmas pessoas, a mesma comida, os mesmos restaurantes, o mesmo circo, o
mesmo percurso que nos levava à praia e o mesmo calor que nos remetia para o
fresco do ar condicionado de casa. Sem rede de telemóvel tornava-se ainda mais
difícil mitigar o silêncio. Então esperámos, esperávamos que os dias passassem
para podermos sair dali e voltar ao ruído da cidade.
Mas, enquanto percorríamos a auto-estrada no regresso, longe
das curvas e das contra- curvas das estradas nacionais, interrogamo-nos se nós,
tal como a Mina, também continuamos iguais ao que eramos há quatro anos. Na
verdade, o problema pode não ser daquela terra de gente generosa e simpática mas
antes nosso. Qual a urgência que temos de sentir um abanão para podermos apaixonarmo-nos
pelas coisas outra vez?
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