sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O sorteio

Continuo com a minha pausa do dia em que me obrigo a desenhar a pessoa que se sentar à minha frente no comboio. Seja ela qual for.
Fico no meu lugar à espera enquanto tiro da mala o bloco, a lapiseira e a borracha.. Penso sempre que, aconteça o que acontecer, se irá sentar alguém à minha frente e que foram as contigências da vida dela que a trouxeram até mim. Pequenos atrasos, grandes amores, os sinais de trânsito, as portas do metro que não fecharam, uma conversa mais ou menos demorada, um café mais quente que demorou a ser bebido. Sei lá, os pequenos nadas que não significam coisa alguma e que, de certa forma, significam tudo, porque foram os pequenos bocadinhos da sua vida que permitiram que ela se sentasse ali, no banco em frente ao meu.
Durante vinte minutos só tenho olhos para eles.




terça-feira, 27 de novembro de 2012

A hora de ponta

Cada vez gosto mais de desenhar no comboio. Fico resguardado num canto e deixo o traço correr. Encontrei um sítio onde ninguém pode espiar o que faço, pelo que fico mais à vontade para errar.
Mas ando contentinho com os resultados, tendo em conta aquilo o meu passado para as coisas relacionadas com o desenho.
O um dos grandes problemas é que as pessoas gostam de se mexer, coçam-se, cruzam e descruzam as pernas, atendem telemóveis e não têm a decência de voltar a ficar como estavam.
Seja como for, adoro aquela melancolia dos passageiros enquanto fazem a sua viagem de volta.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Qual é a tua série favorita

No Sábado vi um documentário em que se falava das séries televisivas. Malta que adora seguir temporada atrás de temporada do Walking Dead, Lost, Dexter, Sopranos ou Gossip Girl. Amigos que se juntam para assistir aos episódios, tipos que mandam correios electrónicos aos seus criadores quando não gostam dos finais ou deixam a sua vida em suspenso para poderem legendar um episódio para os outros fãs terem legendas o mais rapidamente possível (acerca da pirataria conta-se um episódio muito interessante sobre Heroes).
Entendo o amor, mas continuo a achar que só aparece uma série mesmo boa por ano.
Já o Buchas é diferente. Aprecia uma bela bonecada, especialmente quando está a chover como este fim-de-semana. Veste o seu roube e fica a assistir às suas séries favoritas, A Casa do Mickey Mouse, Ruca, Jack e os piratas da terra do nunca e a Dra. Brinquedos.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A mão de Deus

É normal andar a desenhar malta que está no comboio. É uma forma de ocupar o tempo que passo na viagem, principalmente quando nao tenho nada para ler.
Ora o meu jeitinho para a arte do desenho digamos, não é nada de extraordinário e até pode ser considerado uma ofensa caso um dia destes, por infelicidade, a pessoa desenhada quiser ver o que eu fiz. Na Bélgica onde os bons desenhadores caem no céu poderia facilmente ser preso. É porque eu tenho uma capacidade incrível para fazer as pessoas parecem com outras pessoas. É mesmo muito frustrante. Uma mulher engraçada pode facilmente ficar com aspecto duma Duquesa de Alba e um surfista, quando o traço não ajuda, pode chocar com um Zé Pedro.
Mas ontem, sem literatura na mala, decidi aumentar a escala dos meus esboços e bem, não sei o que se passou, mas parece que algo pegou na minha mão e desenhou por mim. Se fosse um homem religioso e tivesse em crise de fé, diria que tivera ali, no comboio das seis e vinte e quatro a prova de que Deus existe.
Estou tão orgulhoso do milagre que tenho de o mostrar ao mundo!


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ralph

Gosto de ir ao cinema com o Buchas porque ele fica verdadeiramente feliz com isso. Quando o filme termina vai para o pé da tela dançar a música do final enquanto imita as personagens principais da fita. É tão delicioso que me sento na primeira fila a vê-lo. Ele expressa-se duma forma caótica que não se parece com nada e isso torna a sua performance num momento especial.
Mas tenho de confessar que os filmes que tenho visto não são nada de especial. Normalmente são uma seca sem nenhum sentido que me fazem amaldiçoar o dinheiro que tenho de gastar. Ainda por azar é tudo em 3D, o que não ajuda.
Mas isso não acontece com Força Ralph que é uma curtição. Cheio de piada, inteligente cheio de boas intenções e piscadelas de olho aos pais sentados na sala. Um miminho e um poema de amor dedicado aos jogos de vídeo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Se isto não é Feng Shui, então o que é?

Este é o altar da Melissa que fica mesmo por cima da lareira. Não somos grandes decoradores de interiores o que explica termos posto ali um Gnomo de jardim e uma vela acesa.
Encafuamos as coisas nos sítios vazios e por vezes ficamos deprimidos pelas opções que tomamos e especialmente por não conseguirmos morar numa casa bonita como aquelas que aparecem na Máxima Interiores.
Mas o Gnomo tem uma função muito mais importante que a estética. Pode parecer heresia para algumas pessoas mas é a ele que a Melissa pede as suas coisas. Para ter sorte na vida e esperança no futuro. Saúde para os amigos e familiares. Coisas que normalmente se pede num banco de igreja de joelhos. Acende com a sua fé uma vela, que fica ao lado do Anão a arder, dia e noite. Não nos podemos queixar. Não sei se é do Anão ou não, mas a verdade é que somos uma família cheia de sorte.
Ao lado do Anão está uma moldura com duas fotos que correspondem a dois momentos maravilhosos na nossa vida. O nosso casamento, em que eu a beijo num plano inclinado e o primeiro sorriso do Buchas.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A teoria do cérebro atrofiado ou o que foi feito da mulher com quem casei

 Tendo em conta o que ando a viver no seio da minha família, resolvi testar uma teoria minha que cogitei enquanto olhava para a Melissa a assistir à gala de domingo da Casa dos Segredos. A premissa é simples: Conseguirá o cérebro descansar enquanto vê lixo televisivo?
A Melissa foi a minha cobaia humana e apesar de ser uma boa cobaia, com espírito crítico e essas coisas todas, tal experiência não pode ter, para os devidos efeitos, qualquer validade científica. Seja como for e como alguma gente ligada às ciências gosta muito de bradar, o que resulta com uma pessoa pode não resultar com outra.

Comecei a anotar o comportamento da minha cobaia numa noite em que se tivera queixado do cansaço. Trabalhei nas tarefas domésticas com afinco para que a cobaia não desperdiçasse muito tempo com elas por forma a que, nesse dia, fosse para o sofá mais cedo.
Sentada no sofá, comecei a despertar-lhe alguma raiva andando a surfar nos conteúdos gravados na box e também no disco externo. Nomes de filmes, séries ou documentários como Boogie Nights, Mal nascida, A separação, Neil Young – Heart of Gold, Dexter, Weekend, entre outros foram surgindo no monitor. Tudo coisas com o seu valor cultural, claro está.
A cobaia rapidamente se apercebeu dos meus intentos e avisou que não queria ver nada exigente e que lhe apetecia ver televisão. Rejeitada a minha oferta dei-lhe o comando para a mão.
Aqui fica um registo do que se viveu:
10 minutos de passagem pelos canais em que cada um não foi sintonizado mais do que 5 segundos.
15 minutos no TLC para ver as noivas ciganas
15 minutos de publicidade pré Casa dos Segredos
45 minutos Casa dos Segredos
5 minutos de publicidade
10 minutos de Zapping descontrolado sem fim em vista
5 minutos de publicidade
30 minutos de Casa dos Segredos (por acaso foi fixe porque havia lá uma concorrente a abanar o rabo)
A cobaia adormeceu profundamente.
Tempo passado à frente ao Televisor: 140 minutos

No dia seguinte, fiz o mesmo mas, coloquei logo um episódio do Dexter a rodar para que quando se sentasse no Sofá, a cobaia fosse confrontada com algo palpável para seguir.
Como esperava, a cobaia ia tecendo ao longo dos 40 minutos considerações ao episódio e à qualidade da série, chegando facilmente ao fim do episódio sem que, durante esse tempo, tivesse pedido para que a televisão fosse desligada. A cobaia desfez-se em elogios e não teve necessidade de ver o que se passava na Casa dos Segredos.

Noutro dia, procedi ao mesmo com o documentário Wasteland sobre o trabalho do artista brasileiro Vik Muniz. Desta vez estava também o pai da cobaia que, por acaso, só gosta de ver notícias. Como seria de esperar assistiram os dois ao documentário e ficaram muito felizes de terem presenciado o mesmo.

Conclusões: Parece-me que o cérebro segue qualquer coisa a que seja confrontado. Não me parece que fique cansado por ver a Petra em Bikini ou o Dexter a escolher a sua próxima vítima, embora se estivéssemos a falar de pénis a coisa fosse diferente.
O que se passou tanto no episódio do Dexter como no documentário foi que a minha cobaia seguiu o que estava a ver e que, se lhe fosse dado a escolher não optaria por ver nenhum dos programas mencionados, atirando toda a família para as peripécias dum reality show.
Uma coisa é descansar o cérebro outra é atrofiá-lo.
desenho de Matt Groening

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Desperdício de ecrã de 40 polegadas

O puto não dorme, pronto! Ele até gostava de passar pelas brasas, mas apanhou a consciência de que o tempo passado em sono é um desperdício para o seu divertimento e, por conseguinte, há que aguentar ao máximo os prazeres da vida, como mandar-se para um pula-pula cheio de ar, montar o "Rocha", o seu fiel cavalinho de brincar ou simplesmente espalhar peças dum puzzle qualquer pelas divisões da casa.
Esta forma de comportamento lixa-me os planos para as noites de cinema que tenho planeadas para mim, porque a Melissa, que está numa fase em que não quer cansar, sabe-se lá porquê, o cérebro (falarei da minha teoria do cérebro atrofiado noutro post), não quer ver nada a não ser programas parvos do TLC.
Ora o acto nobre de ver um filme pode tornar-se, no meu lar, uma autêntica batalha. Ora porque o puto se atira para cima de mim impedindo-me de seguir a acção ou porque a mãe reclama menos intectualidade na sala.
O filme de Ficção Ciêntifica Moon, que não tem mais de 100 minutos, demorei 5 dias a vê-lo.
Assim ainda vou morrer estúpido. É que já não vou para novo!

domingo, 4 de novembro de 2012

Piscina cheia

Apesar de ter de acordar cedo, os Sábados de manhã são sempre enternecedores.
Não há nada mais fofo do que ver crianças de 3 anos com as suas tocas azuis da Decathlon agarradas a esferovite e a tentar nadar numa piscina aquecida.
Também me comovo quando os marretas andam de bicicleta mas  o buchas a chapinhar na água é outra coisa.