quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Pessoas que sentem coisas

A razões porque não tiro mais cursos para desenvolver a minha veia artística é porque as pessoas nesses sítios começam logo a sentir coisas na primeira aula e se há coisa que detesto é ver pessoas a sentir.
Uma vez num workshop de escrita criativa, uma aluna, com esperança em ser escritora, teve vinte minutos a descrever o seu estado de espírito. Que via a sua imagem reflectida nas janelas do carro, que se sentava no adro da igreja, que fumava cigarros e olhava para o fumo que escapava dos seus lábios finos e que, na verdade, se sentia assim, a dissipar-se no mundo como um fumo de cigarro. Montes merdas apenas para dizer que estava aborrecida. Ainda por cima, no fim da leitura, toda a gente achou as palavras da rapariga lindas, o que a encheu de orgulho e motivada para continuar a escrever daquela maneira.
Noutra aula de escrita, essa contaram-me, a formadora pôs os alunos a dançarem com uma folha branca na mão. E eles dançaram.
A última porque passei, foi numa aula de desenho, em que nos foi pedido para passar a palma da mão, antes de iniciarmos o trabalho, pela folha em que iríamos desenhar de forma a podermos sentir o movimento.
Eu passei, claro, para não parecer mal. Fechei os olhos e tudo mas o desenho não saiu melhor.



quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Pingue Pingue

Os dias chuvosos atrasam toda a gente. Não gosto de andar de chapéu de chuva e fico sempre arreliado  porque tenho a tendência de me esquecer dos meus em todo o lado. A Melissa fica encarregue de  repor o stock. Não sei como é que ela faz isso mas compra-me sempre chapéus femininos. Em consequêcia das opções da minha mulher, nos dias cinzentos ando sempre com um ar amaricado o que não aprecio particularmente. De maneira que prefiro arriscar a sorte e andar pelas ruas sem protecção. Na maior parte das vezes chego sempre atrasado a todo o lado, porque tenho de ficar abrigado nos toldos à espera que o dilúvio passe ou acalme.
No outro dia fiquei meia hora sentado a ouvir as gotas a bater na pala da estação da Parede.
Desta vez não fiquei chateado!

sexta-feira, 30 de novembro de 2012

O sorteio

Continuo com a minha pausa do dia em que me obrigo a desenhar a pessoa que se sentar à minha frente no comboio. Seja ela qual for.
Fico no meu lugar à espera enquanto tiro da mala o bloco, a lapiseira e a borracha.. Penso sempre que, aconteça o que acontecer, se irá sentar alguém à minha frente e que foram as contigências da vida dela que a trouxeram até mim. Pequenos atrasos, grandes amores, os sinais de trânsito, as portas do metro que não fecharam, uma conversa mais ou menos demorada, um café mais quente que demorou a ser bebido. Sei lá, os pequenos nadas que não significam coisa alguma e que, de certa forma, significam tudo, porque foram os pequenos bocadinhos da sua vida que permitiram que ela se sentasse ali, no banco em frente ao meu.
Durante vinte minutos só tenho olhos para eles.




terça-feira, 27 de novembro de 2012

A hora de ponta

Cada vez gosto mais de desenhar no comboio. Fico resguardado num canto e deixo o traço correr. Encontrei um sítio onde ninguém pode espiar o que faço, pelo que fico mais à vontade para errar.
Mas ando contentinho com os resultados, tendo em conta aquilo o meu passado para as coisas relacionadas com o desenho.
O um dos grandes problemas é que as pessoas gostam de se mexer, coçam-se, cruzam e descruzam as pernas, atendem telemóveis e não têm a decência de voltar a ficar como estavam.
Seja como for, adoro aquela melancolia dos passageiros enquanto fazem a sua viagem de volta.

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Qual é a tua série favorita

No Sábado vi um documentário em que se falava das séries televisivas. Malta que adora seguir temporada atrás de temporada do Walking Dead, Lost, Dexter, Sopranos ou Gossip Girl. Amigos que se juntam para assistir aos episódios, tipos que mandam correios electrónicos aos seus criadores quando não gostam dos finais ou deixam a sua vida em suspenso para poderem legendar um episódio para os outros fãs terem legendas o mais rapidamente possível (acerca da pirataria conta-se um episódio muito interessante sobre Heroes).
Entendo o amor, mas continuo a achar que só aparece uma série mesmo boa por ano.
Já o Buchas é diferente. Aprecia uma bela bonecada, especialmente quando está a chover como este fim-de-semana. Veste o seu roube e fica a assistir às suas séries favoritas, A Casa do Mickey Mouse, Ruca, Jack e os piratas da terra do nunca e a Dra. Brinquedos.


quinta-feira, 22 de novembro de 2012

A mão de Deus

É normal andar a desenhar malta que está no comboio. É uma forma de ocupar o tempo que passo na viagem, principalmente quando nao tenho nada para ler.
Ora o meu jeitinho para a arte do desenho digamos, não é nada de extraordinário e até pode ser considerado uma ofensa caso um dia destes, por infelicidade, a pessoa desenhada quiser ver o que eu fiz. Na Bélgica onde os bons desenhadores caem no céu poderia facilmente ser preso. É porque eu tenho uma capacidade incrível para fazer as pessoas parecem com outras pessoas. É mesmo muito frustrante. Uma mulher engraçada pode facilmente ficar com aspecto duma Duquesa de Alba e um surfista, quando o traço não ajuda, pode chocar com um Zé Pedro.
Mas ontem, sem literatura na mala, decidi aumentar a escala dos meus esboços e bem, não sei o que se passou, mas parece que algo pegou na minha mão e desenhou por mim. Se fosse um homem religioso e tivesse em crise de fé, diria que tivera ali, no comboio das seis e vinte e quatro a prova de que Deus existe.
Estou tão orgulhoso do milagre que tenho de o mostrar ao mundo!


quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Ralph

Gosto de ir ao cinema com o Buchas porque ele fica verdadeiramente feliz com isso. Quando o filme termina vai para o pé da tela dançar a música do final enquanto imita as personagens principais da fita. É tão delicioso que me sento na primeira fila a vê-lo. Ele expressa-se duma forma caótica que não se parece com nada e isso torna a sua performance num momento especial.
Mas tenho de confessar que os filmes que tenho visto não são nada de especial. Normalmente são uma seca sem nenhum sentido que me fazem amaldiçoar o dinheiro que tenho de gastar. Ainda por azar é tudo em 3D, o que não ajuda.
Mas isso não acontece com Força Ralph que é uma curtição. Cheio de piada, inteligente cheio de boas intenções e piscadelas de olho aos pais sentados na sala. Um miminho e um poema de amor dedicado aos jogos de vídeo.

segunda-feira, 12 de novembro de 2012

Se isto não é Feng Shui, então o que é?

Este é o altar da Melissa que fica mesmo por cima da lareira. Não somos grandes decoradores de interiores o que explica termos posto ali um Gnomo de jardim e uma vela acesa.
Encafuamos as coisas nos sítios vazios e por vezes ficamos deprimidos pelas opções que tomamos e especialmente por não conseguirmos morar numa casa bonita como aquelas que aparecem na Máxima Interiores.
Mas o Gnomo tem uma função muito mais importante que a estética. Pode parecer heresia para algumas pessoas mas é a ele que a Melissa pede as suas coisas. Para ter sorte na vida e esperança no futuro. Saúde para os amigos e familiares. Coisas que normalmente se pede num banco de igreja de joelhos. Acende com a sua fé uma vela, que fica ao lado do Anão a arder, dia e noite. Não nos podemos queixar. Não sei se é do Anão ou não, mas a verdade é que somos uma família cheia de sorte.
Ao lado do Anão está uma moldura com duas fotos que correspondem a dois momentos maravilhosos na nossa vida. O nosso casamento, em que eu a beijo num plano inclinado e o primeiro sorriso do Buchas.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A teoria do cérebro atrofiado ou o que foi feito da mulher com quem casei

 Tendo em conta o que ando a viver no seio da minha família, resolvi testar uma teoria minha que cogitei enquanto olhava para a Melissa a assistir à gala de domingo da Casa dos Segredos. A premissa é simples: Conseguirá o cérebro descansar enquanto vê lixo televisivo?
A Melissa foi a minha cobaia humana e apesar de ser uma boa cobaia, com espírito crítico e essas coisas todas, tal experiência não pode ter, para os devidos efeitos, qualquer validade científica. Seja como for e como alguma gente ligada às ciências gosta muito de bradar, o que resulta com uma pessoa pode não resultar com outra.

Comecei a anotar o comportamento da minha cobaia numa noite em que se tivera queixado do cansaço. Trabalhei nas tarefas domésticas com afinco para que a cobaia não desperdiçasse muito tempo com elas por forma a que, nesse dia, fosse para o sofá mais cedo.
Sentada no sofá, comecei a despertar-lhe alguma raiva andando a surfar nos conteúdos gravados na box e também no disco externo. Nomes de filmes, séries ou documentários como Boogie Nights, Mal nascida, A separação, Neil Young – Heart of Gold, Dexter, Weekend, entre outros foram surgindo no monitor. Tudo coisas com o seu valor cultural, claro está.
A cobaia rapidamente se apercebeu dos meus intentos e avisou que não queria ver nada exigente e que lhe apetecia ver televisão. Rejeitada a minha oferta dei-lhe o comando para a mão.
Aqui fica um registo do que se viveu:
10 minutos de passagem pelos canais em que cada um não foi sintonizado mais do que 5 segundos.
15 minutos no TLC para ver as noivas ciganas
15 minutos de publicidade pré Casa dos Segredos
45 minutos Casa dos Segredos
5 minutos de publicidade
10 minutos de Zapping descontrolado sem fim em vista
5 minutos de publicidade
30 minutos de Casa dos Segredos (por acaso foi fixe porque havia lá uma concorrente a abanar o rabo)
A cobaia adormeceu profundamente.
Tempo passado à frente ao Televisor: 140 minutos

No dia seguinte, fiz o mesmo mas, coloquei logo um episódio do Dexter a rodar para que quando se sentasse no Sofá, a cobaia fosse confrontada com algo palpável para seguir.
Como esperava, a cobaia ia tecendo ao longo dos 40 minutos considerações ao episódio e à qualidade da série, chegando facilmente ao fim do episódio sem que, durante esse tempo, tivesse pedido para que a televisão fosse desligada. A cobaia desfez-se em elogios e não teve necessidade de ver o que se passava na Casa dos Segredos.

Noutro dia, procedi ao mesmo com o documentário Wasteland sobre o trabalho do artista brasileiro Vik Muniz. Desta vez estava também o pai da cobaia que, por acaso, só gosta de ver notícias. Como seria de esperar assistiram os dois ao documentário e ficaram muito felizes de terem presenciado o mesmo.

Conclusões: Parece-me que o cérebro segue qualquer coisa a que seja confrontado. Não me parece que fique cansado por ver a Petra em Bikini ou o Dexter a escolher a sua próxima vítima, embora se estivéssemos a falar de pénis a coisa fosse diferente.
O que se passou tanto no episódio do Dexter como no documentário foi que a minha cobaia seguiu o que estava a ver e que, se lhe fosse dado a escolher não optaria por ver nenhum dos programas mencionados, atirando toda a família para as peripécias dum reality show.
Uma coisa é descansar o cérebro outra é atrofiá-lo.
desenho de Matt Groening

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Desperdício de ecrã de 40 polegadas

O puto não dorme, pronto! Ele até gostava de passar pelas brasas, mas apanhou a consciência de que o tempo passado em sono é um desperdício para o seu divertimento e, por conseguinte, há que aguentar ao máximo os prazeres da vida, como mandar-se para um pula-pula cheio de ar, montar o "Rocha", o seu fiel cavalinho de brincar ou simplesmente espalhar peças dum puzzle qualquer pelas divisões da casa.
Esta forma de comportamento lixa-me os planos para as noites de cinema que tenho planeadas para mim, porque a Melissa, que está numa fase em que não quer cansar, sabe-se lá porquê, o cérebro (falarei da minha teoria do cérebro atrofiado noutro post), não quer ver nada a não ser programas parvos do TLC.
Ora o acto nobre de ver um filme pode tornar-se, no meu lar, uma autêntica batalha. Ora porque o puto se atira para cima de mim impedindo-me de seguir a acção ou porque a mãe reclama menos intectualidade na sala.
O filme de Ficção Ciêntifica Moon, que não tem mais de 100 minutos, demorei 5 dias a vê-lo.
Assim ainda vou morrer estúpido. É que já não vou para novo!

domingo, 4 de novembro de 2012

Piscina cheia

Apesar de ter de acordar cedo, os Sábados de manhã são sempre enternecedores.
Não há nada mais fofo do que ver crianças de 3 anos com as suas tocas azuis da Decathlon agarradas a esferovite e a tentar nadar numa piscina aquecida.
Também me comovo quando os marretas andam de bicicleta mas  o buchas a chapinhar na água é outra coisa.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

Vampiros

Não é que tenha muito interesse na saga, mas depois de ver o poster, achei que este seria o cartaz mais horrível que Hollywood pariu.
Ou como diz a Melissa, parece que estão todos a fazer Phoonnig.

sábado, 27 de outubro de 2012

Lido hoje

"Quase ninguém nota que os países europeus já não são regidos por instituições avalizadas pela legitimidade democrática, mas por uma série de siglas que as substituíam. O FEEF, o MEE, o BCE, a ABE e o FMI assumiram o comando. Todos estes organismos têm um ponto em comum: não derivam de nenhuma constituição e não envolvem os eleitores nas tomadas de decisão."

texto de Hans Magnus Enzensberger e desenho de Haddad

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

São coisas destas que me enternecem

Finalmente a hora vai mudar e é altura de levantar as mãos ao céu. Começava a ser desagradável ter de acordar e sair de casa ainda de noite.
Um dia o Buchas acordou às sete da manhã e vendo da janela o céu ainda negro, reflectiu em solidão sobre o mundo e o tempo:
“Oh, já é tarde, é de noite.”
E num vagar pesaroso, sem perceber muito bem as contingências da vida, deitou-se no sofá a ver mais um episódio da Casa do Mickey!


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Gosto muito de a ver trabalhar

Não sou homem de grandes taras por gajas do showbiz. Acho mesmo que as mulheres das novelas e dos concursos têm uma figura tão plastificada que, pelo mesmos para mim, torna-as repulsivas. São tão pintadas, das unhas dos pés à ponta dos cabelos que tudo nelas se torna falso e artificial. Continuo a ser um adepto da naturalidade, cabelo revolto e selvagem, face sem maquiagem, enfim o doce vislumbre "the real thing".
Mas hoje enquanto estava a ler uma aventura dos X-Men, aparece-me a senhora Emma Frost que me fez tilintar no cérebro campainhas e sinos de igrejas.
Além de ser linda é mulher capaz de desabafar sobre o trabalho e, ao jantar, dizer coisas como: "Sinto muita curiosidade sobre como ele consegue abrir o inconsciente profundo duma pessoa e alterar o mundo físico."



Desenhos de Olivier Coiper

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Mais do que dois é uma multidão

Fomos ao teatro com o Buchas e depois da peça, ficámos sentados na esplanada do quiosque do Jardim Constantino com a Eliana e o Daniel e os seus três filhos, a Isabel, o Diogo e a Joana.
Havia um pequeno parque com escorregas e baloiços o os miúdos foram para lá brincar.
Descobri o pesadelo que é controlar três crianças num espaço público. Há sempre uma que desaparece. Acho mesmo que é humanamente impossível não deixar escapar uma de vez em quando. A Eliana e o Daniel que o digam porque cinco em cinco minutos esticavam a cabeça à procura da cria fugitiva. Encontram sempre, felizmente, mas devem apanhar grandes cagaços.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

As pessoas não têm mesmo nada para dizer ao mundo?

Como gosto de malta que escreve bem e que tem ideias fixes e espirituosas, apetece-me, de quando em vez, surfar e andar à cata dela, de passar os olhos pelos milhares de blogs existentes muito embora, seja mesmo raro conseguir chegar ao fim dum texto. Tenho boa vontade, esforço-me imenso por gostar de alguma coisa, mas caramba, 90% do que é publicado é uma grande trampa. A esmagadora maioria do que é posto na blogosfera serve apenas para o autor se masturbar. Pretende-se mostrar que se tem muito bom gosto, que se ouve boa musica, se lê bastante, se veste melhor e que, essencialmente, se é superior aos leitores e que os reles seguidores, malta sem cultura e sem qualquer destino na vida, deve invejar na solidão do seu quarto, as fotos na praia ou os magníficos fins-de-semana que o seguido esbanja no servidor para provar que a sua vida é melhor que a da matilha. O mais irónico disto tudo é que, apesar do desrespeito pelos leitores, os comentários dos mesmos são essenciais para a continuidade desta masturbação e o mais estranho é que há quem lhes lamba o cu.
Ai este mundo...este mundo...

desenho de Gabriel Campanário

domingo, 14 de outubro de 2012

Sábado de Manhã

O Buchas entrou para a natação o ano passado e agora mudou de turma. Foi porreiro porque assim já  conseguimos acordar às 8 e meia em vez das 7 e meia habituais. Adicionámos uma hora ao nosso sono semanal, embora para ele tanto lhe faz porque dorme sempre o tempo que quiser.
Não sei até onde esta aventura desportiva nos vai levar e quanto das nossas vidas vai consumir. Para já são só 45 minutos. O clube onde ele nada é pequeno e presumo que não tenham grandes ambições competitivas, mas esta sábado topei por lá umas taças expostas e desconfio que, se o Buchas tiver jeito para as braçadas, ainda vou ter de andar com o miúdo pelos campeonatos de iniciados.
Enquanto esperei que a aula acabasse, fiquei a desenhar a senhora da recepção que merecia melhor sorte do que ver a sua imagem entregue ao traço dum amador sem escrúpulos em tornar as pessoas diferentes no papel. Na verdade acho que nunca vou conseguir desenhar pessoas em condições.
Existem várias certezas que conheço sobre a minha família e que normalmente fazem a família rir por serem tão absurdas. O irmão da Melissa tirar o curso primeiro que ela (está quase e ela começou com 10 anos de avanço), o Buchas tirar a carta de condução primeiro que o irmão da Melissa (já só faltam 15 anos) e agora, enquanto pintava os cacifros, o Buchas aprender a desenhar rostos de pessoas primeiro que eu. Ainda pensei em avançar em o Buchinhas aprender a nadar mais depressa que eu, mas isso ele já sabe.


segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Disco Compacto

Adoro o filme Alta Fidelidade e quanto mais velho o vejo mais o entendo. Se pensar em todo o universo de filmes e livros, a personagem do John Cusack, Rob Gordon, é a mais parecida comigo que já encontrei. Na verdade, todos os homens quarentões ou a chegar a isso devem achar o mesmo.
Mas sempre que vejo o filme sinto uma nostalgia enorme e revivo os meus 20 anos na minha cabeça e relembro as carradas de CD’s que faziam parte da minha vida. Se calhar hoje tenho uma ideia mais romantizada do que foi a minha existência nos anos 90 porque, na altura, garanto, nunca lhe achei muito piada.
Nos últimos dias temos levado a cabo uma série de alterações na nossa sala e as minhas dezenas discos das bandas chamadas indie da década de 90 têm de ir à vida. Não há espaço e já não oiço nada em disco e quando quero ouvir qualquer coisa faço-o em Mp3 pelo que, claro, tem sentido dar aquilo a alguém que faça bom uso da sonoridade que coleccionei durante anos. Sinto um aperto no coração em me livrar de tudo, e ao contrário dos meus livros, que são sempre oferecidos à biblioteca de Oeiras, acho que os meus discos merecem algo melhor.
Reparem, foi com Nick Cave que chorei o primeiro amor não correspondido, com os My Bloody Valentine o segundo, com o Tom Waits o terceiro, com os Violent Femmes o quarto, com os Sonic Youth o quinto, Nirvana o sexto…
Percebem a ideia.
Deixo então a pérola:
“What came first, the music or the misery? People worry about kids playing with guns, or watching violent videos, that some sort of culture of violence will take them over. Nobody worries about kids listening to thousands, literally thousands of songs about heartbreak, rejection, pain, misery and loss. Did I listen to pop music because I was miserable? Or was I miserable because I listened to pop music?”


domingo, 7 de outubro de 2012

Madeira

Fizemos ontem 5 anos de casados, mas começamos o namoro há 10.
Fomos a uma Pizza Hut porque são as pizzas preferidas do Buchas e a vista é para o mar.
És mais bonita fora do meu desenho.
Amo-te!


segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Propofol

Estivemos no Hospital para a Melissa fazer uns exames ao bucho. Coisa de rotina mas tiveram de a sedar com a droga preferida do Michael Jackson para lhe meterem pela garganta aparelhos com câmeras. Nojento.
Fiquei na sala de espera com o caderno à espera. Mas como estávamos num privado despacharam tudo num instante e nem tive tempo de acabar o desenho, tive de inventar o resto.
Depois quando fomos a pagar descobrimos que a rapidez sai cara!

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Zombies

Vai ser muito difícil tirar a malta dos Shoppings. A urgência da desamericanização das vidas vai acabar por mandar muitos para os antidepressivos.
Este fim-de-semana chocámos de frente com clientes que literalmente passam a manhã de domingo no Ikea para comprar uma espátula e um tupperware de tampa vermelha; e clientes que não se importam de estar três horas numa fila na Rádio Popular para poupar o IVA duma batedeira Moulinex. É de doidos!

desenho dum sueco qualquer

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

O Buchas não dorme durante a tarde a não ser que seja posto em algum carro e faça uma viagem que, verdade seja dita, nem precisa de ser muito grande. Fecha logo os olhos e por vezes adormece antes de sairmos do parque de estacionamento.
Durante as férias fomos passear ao Badoka. Que tinha de ser e que agora, como é mais crescido, já acha piada aos animais que por lá andam.
Chegámos e estava uma fila duns 40 minutos para comprar bilhete. O Safari, que é melhor da festa, obrigou-nos a ficar por ali duas horas e meia sem nada para fazer, à torreira do sol e a levar com pó em cima como se fosse água em dias de tempestade.
Ingerimos para aí uns 40 litros de líquidos, ficámos todos amarelos por causa do pó e abençoámos a hora da entrada para o jipe para iniciarmos então o Safari.
O Buchas mal o jipe começou a sua marcha, ainda esteve atento aos animais, mas passado um bocado, quando dei por ele, já me tinha adormecido.
O que eu gostei mesmo foi da casa da árvore!

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Amigalhaços

Sempre achei que, se quiser estar numa fotografia com alguém, basta pedir a um transeunte a gentileza de me tirar a foto. As pessoas sempre fizeram isso e não me parece que se tenham dado mal. Tenho várias assim. Ainda no outro dia estive a ver um álbum velho, que fiz com a Melissa há 10 anos, no princípio do namoro, em Óbidos, e tenho várias fotografias em que estou eu e ela, com o ar um bocado asaloiado em várias partes da muralha, agarradinhos e todos contentes. Perfeitamente enquadrados e com uma boa vista sobre os nossos corpos e o castelo.
Mas o mundo dá as suas voltas e devido à maravilha da tecnologia já é possível registar estes pequenos momentos da vida sem pedir nada a ninguém. Basta virar a câmara com a objectiva contra o objecto que se quer fotografar, esticar o braço até não poder mais e click. Pronto, está feito!



sábado, 15 de setembro de 2012

Motelx

A Melissa adora tudo o que é terror. Apaixona-se pelos filmes, pelos livros e até tenho fotografias de mortos espalhadas pelo disco rígido do computador onde estou a escrever isto. 
Recentemente, imbuída por uma história de arrepiar que descobriu, escreveu um guião dum belíssimo filme que está para ser vendido a quem o quiser comprar e, pelo que li, é material para arrecadar o prémio principal do Fantasporto.
A ironia é que fica acagaçada muito facilmente. As fitas metem-lhe medo. Fica sem dormir agarradinha a mim e acorda em sobressalto a altas horas da noite. Recuso-me a ir ao cinema com ela para ver coisas de meter medo, porque tem ataques de pânico, crava-me a unhas na carne e não é capaz de sossegar durante a sessão. Uma chatice.
Mas como apaixonados pelo cinema que somos, não podemos virar costas ao MOTELx e sempre que para lá vamos é um stress. Qualquer dia não nos deixam entrar.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Também acho

Antes de escreveres o que quer que seja lê isto e pode ser que comeces a escrever qualquer coisa de jeito:
 "Don Basílio era um homem de aspecto feroz e bigodes frondosos que não pactuava com com parvoíces e subscrevia a teoria de que o uso liberal de advérbios e a excessiva adjectivação eram coisas de pervertidos e de gente com deficiências vitamínicas. Sempre que descobria um redactor com tendência para a prosa com floreados mandava-o escrever a necrologia durante três semanas."
 É do Carlos Ruiz Zafón no Jogo do Anjo.

Desenho de Vincent Chong

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sangue Fresco

O Correio da Manhã gosta de premiar os seus queridos leitores, malta habituada a uma boa pitada de sangue logo pela manhã, com cheques de compras que podem ir até aos 5000 euros. É uma boa forma de manter as vendas em época de crise e, para o sorteado, um belo motivo para sorrir com a fortuna.
Além do cheque, o afortunado tem também direito ao seu momento de fama, sendo fotografado e a sua imagem estampada em destaque numa página qualquer do jornal destinada ao efeito, enaltecendo o texto que acompanha a sua fota as vantagens de ser cliente assíduo do periódico.
Não deixa de ser engraçado ver o vencedor todo contente com o matutino aberto mostrando, orgulhoso, as habituais gordas da primeira página.

domingo, 9 de setembro de 2012

O significado da globalização

Ir ao Kidzania é:

Trocar dinheiro na Caixa Geral de Depósitos
Comer um hambúrguer no Mac Donald's
Distribuir garrafas da Coca-Cola
Fazer compras no Continente
Ir a um hospital Johnson & Johnson
Enfardar um pizza na Pizza Hut
Espremer fruta para a Compal
Abastecer num posto Galp
Trabalhar numa central eléctrica EDP
Distribuir cartas nos CTT
Tirar fotos para a Sony
Fazer jornalismo na Impresa
Andar num autocarro Barraqueiro



sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Mas porque é que não me deixas em paz um bocadinho?

Férias é uma palavra muito fixe, é sim senhor, e eu até andava mesmo necessitado de deixar de trabalhar por uns tempos. O meu cérebro, no último dia de labuta, era uma papa incapaz de produzir qualquer pensamento mais profundo que não fosse o de carregar na tecla verde da fotocopiadora sempre que achava que precisava duma fotocópia. Por isso, só pensava estar uns dias à beira da piscina ou do mar a ler um livro ou então a desenhar para ver se aprendia qualquer coisa.
Mas mal bati com os pés no bungalow dei logo conta que, afinal, esqueci-me de introduzir no meu bem intencionado idílio, uma certa coisinha que, num momento de loucura, elaborei há 3 anos e que ronda agora os 93 centímetros que, viu-se logo, me iria fazer a vida negra e estragar todos os planos. E, claro, foi mesmo isso que fez!
Não sei quantas horas uma criança consegue passar sem dormir, mas o Buchas, tenho a certeza que andou muito perto dos piores records relatados na blogosfera e só dormia mesmo quando o seu corpinho não conseguia acompanhar o seu desejo de me cansar mais que um normal e estupidificante dia de trabalho.
Felizmente nem tudo correu bem para o Buchas, e Deus lá me deu duas abébias. Consegui, em duas manhãs, esgueirar-me da cama, entre as 08:00 e as 08:30, sentar-me naquele abençoado alpendre e desenhar. Não foi muito, eu sei, mas sempre foram dois desenhos. Isto porque passada meia hora, lá ouvia a porta a abrir e pronto:
"O que é que estás a fazer pai? Também quero pintar."


quarta-feira, 5 de setembro de 2012

O rapaz deve ter as suas razões

O Ronaldo está amuado e depois?
É perfeitamente normal que uma pessoa, depois de falar com a entidade patronal se sinta assim. Eu, normalmente, depois de falar com ela, também tenho tendência para ficar amuadito.  Nunca me dão razão em nada.
Seja como for é sempre reconfortante quando sentimos que os multimilionários têm sentimentos e que, podem ter problemas iguais ao comum dos mortais. Eu gosto de ver estas coisas e, mesmo sem saber o que se passou, acho que ele tem razão.
O melhor mesmo é deixá-lo em paz, dar-lhe espaço que isso, mais cedo ou mais tarde, acaba por passar.


sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Este homem vai partir


Lá vou eu de férias. Como é apanágio em blogues deixo uma imagem paradisíaca para vincar o momento. Quer dizer, a imagem não é nada paradisíaca mas foi feita num dia em que eu e a Melissa estávamos sem o Gabriel e bebemos café na esplanada das Avencas que é, desde há muito, a nossa esplanada preferida. Adoramos lá estar, faça sol ou faça chuva. 
No verão está sempre cheia, o que é chato, mas no inverno não costuma lá estar ninguém o que torna tudo melhor, especialmente quando o mar está bravo e o céu cinzento. A Melissa lê, eu desenho.
Da última vez tentei desenhar corpos. Poderão pensar que eu fui um maganão e só desenhei corpos jeitosos, mas juro que não. Duas destas pessoas não o eram mas no desenho parecem que são. No entanto a rapariga de pé era mesmo jeitosa!
O que é porreiro é que as pessoas na praia não se mexem o que dá tempo para traçar os seus corpos sem interferências do movimento.
É o meu momento Titanic.






quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Do meu blog preferido

Desenho de Asaf Hanuka

Esconder a identidade


Nunca chegarei a compreender porque razão a malta no Facebook coloca fotos maradas no seu perfil. O objectivo do site, parece-me a mim, é que a pessoa possa ser encontrada por quem a procura. Ora, disponibilizar ao mundo a imagem duma flor ou dum carro de corrida não é a coisa mais acertada a fazer, a não ser que, claro está, o seu desejo seja que ninguém o encontre.
Ainda a semana passada, por culpa duma súbita nostalgia que me avassalou a alma, andei a tentar descobrir amigos de outros tempos que nunca mais pus a vista em cima. Já foi um castigo lembrar-me dos nomes deles e quando me lembrei, esbarrei com as fotinhas parvas. A busca tornou-se um tormento e mais valia ter ficado quieto porque não encontrei ninguém, a não ser motas, carros, crianças e bonecos de antigos desenhos animados.
E se aquela gente soubesse as saudades que sinto dela…


Paul Auster

Começa assim  a biografia de Paul Auster:

Pensas que nunca te vai acontecer, que não te pode acontecer, que és a única pessoa no mundo a quem essas coisas nunca irão acontecer, e depois, uma a uma, todas elas começam a acontecer-te, como acontecem a toda a gente”.

Desenho de Antony Hare

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Fotos memoráveis: A técnica vrs a paciência


Existem fotos icónicas como a da senhora afegã capa da National Geographic em 1985 ou a do marinheiro regressado da guerra a beijar uma enfermeira publicada na revista Life em 1945. São imagens que ninguém esquece e que perdurarão ao longo de várias gerações.
No entanto, nem só de belos instantes como estes vive a arte da fotografia. Todos os andarilhos do mundo gostam, também eles, de registar os seus momentos. Por isso é natural que nos álbuns de familiares e amigos encontremos alguns clichés que tanto contribuíram para a felicidade dos intervenientes, provocando, na altura em que foram captados, momentos de grande algazarra artística.
Uma das mais conhecidas é o acto de segurar a Torre de Pisa em Itália. É uma fotografia que exige bastante técnica porque o fotógrafo tem de dominar o enquadramento de forma a não estragar o efeito pretendido, e diz, quem passou por isso, que basta um milímetro mal calculado para ir tudo às urtigas.
Mas Lisboa também tem os seus ex-líbris e não há turista que não aprecie um passeio pelo Parque Expo. É um sítio bonito, atractivo para as vistas e com muito para ver. Confrontados com as explosões de água dos vulcões espalhados pelo Passeio Marítimo, não há ninguém com sentimentos no coração que deixe escapar tão formoso vislumbre. Vai daí, captar o exacto momento em que a água é projectada para o céu torna-se a prioridade de qualquer um. É só uma questão de paciência e dar tudo por tudo para que o modelo não se canse da espera e fique a sorrir na erupção. A demora costuma ser grande, mas se tudo correr bem, fica uma maravilha. 


terça-feira, 28 de agosto de 2012

Curtir a ciência


Um dos sítios mais porreiros de Lisboa para passar uma bela tarde em família é o Pavilhão do Conhecimento. Dá para todas as idades e duvido que alguém, seja miúdo ou graúdo, não se divirta com os brinquedos que por lá estão. Ainda por cima, e isso é muito importante, os pais podem ficar descansadinhos no sofá enquanto as crias se divertem a construir uma casa. Quer dizer, não constroem nada, mas pelo menos divertem-se com os seus capacetes amarelos e tijolos feitos de espuma. Não é uma coisa à prova de birras, há sempre algum mais temperamental que fica chateado porque outro lhe tirou o tijolo de espuma ou o carrinho que serve para carregar os tijolos de forma que os pais têm de intervir, mas dum modo geral passa-se um bom bocado.
Sabiam que, se colocarem um copo cheio de água, quase a transbordar numa mesa e enfiarem para lá dezenas de clips, um de cada vez e devagarinho, a água não derrama. Isso tem uma explicação, como é óbvio, mas eu não a sei.



segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Para isso é que existem os personal shoppers


Foram três os filmes do Batman. Três! E no final de todos eles a Melissa diz sempre a mesma coisa!
“Aquela boca pá. Qualquer habitante de Gothan saberia logo que o Batman era o Bruce Waine. O gajo tem a boca torta e, por muito que se tente não se consegue disfarçar uma coisa daquelas. É o que eu digo, de todos os actores, o Christian Bale era o único que não podia fazer de Batman por causa daquela boca. Ou então o contrário, poderia interpretar qualquer herói, desde que o fato tapasse o raio dos lábios!”


sábado, 25 de agosto de 2012

Os blogs são lugares estranhos


A Sra. D. Mulhercerta escreveu uma coisa no seu blog que me deixou pensativo e que muito provavelmente daria um excelente ponto de partida para alguma coisa.
O sumo do post, em plena silly season, era que mal as férias acabassem e se consumasse o regresso de alguns bloggers ao activo, se poderia finalmente saber para onde iriam correr as suas vidas e desvendar o desfecho de alguns episódios pendentes nas suas existências.
Ora, isso é maravilhoso. O livro aberto que alguns blogs são, muito embora se saiba que nem todo o negrume que a vida pare é partilhado, são uma bela fonte de inspiração. Um bom argumentista, que saiba ler nas entrelinhas do que é escrito, poderá encontrar nestes diários verdadeiras personagens de carne e osso, cheias de inveja, motivações e mentiras que, entrelaçadas com uma boa dose de ficção inteligente, dariam certamente substancia a uma bela série, ou um filme, porque não.
É a rapariga que gasta todo o dinheiro em roupa que é desenhada no metro pelo rapaz que anda com o seu diário gráfico a pintar Lisboa. A senhora que passa o dia a cozinhar para postar as suas criações encontra num workshop um jornalista muito metrosexual que casou com uma loira que quer ser famosa e que odeia uma colega dele que começou agora a emagrecer. É a mãe solteira que cuida da sua criança de 3 anos e encontra vá, um amante de cinema numa sessão do Twilight. O fotógrafo que trabalha no jornal do metrosexual, e que por acaso, é irmão da rapariga que gasta o dinheiro em roupa, fotografa, num trabalho, o interior da casa duma apaixonada por design de interiores que anda desesperada por um emprego na sua área e ocupa o tempo livre a alterar a decoração da sua casa e a dos amigos todas as semanas.
Bah, ná, muito Love Actually!

Desenho de Henri de Toulouse-Latrec

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Será mais um policial nórdico?

A Noruega aguarda com expetativa a abertura, prevista para esta tarde, de um misterioso pacote que foi selado em 1912 por Johan Nygaard, o então presidente da câmara da localidade de Otta, no centro do país, com a inscrição: "Para ser aberto no dia 24 de agosto de 2012".

O leitor precisa de respeito

Nunca gostei da nova literatura a que alguém chamou, e muito bem, de literatura de aeroporto. É uma escrita rápida, vazia e com técnicas de argumento de mau cinema. Os capítulos são curtinhos, cerca de duas páginas, para o leitor, coitadinho, não se cansar e que terminam sempre com uma meia revelação que serve de âncora para o capítulo que virá daqui a duas ou três páginas, jogando artificialmente com a curiosidade do fantoche que está a ler aquilo.
Detesto isso. Li O código da Vinci e pronto fiquei doente uma semana. A Melissa, que até gosta destas coisas, não fosse ela argumentista, comprou uma merda qualquer do José Rodrigues dos Santos e só a ouvia dizer “Oh Meu Deus” e cansada de tanta trapalhada foi à livraria pedir o dinheiro de volta e, imagine-se, eles devolveram.
Mas esta praga espalha-se como doenças num infantário e existem escritores a fazer uma rica vida disto. Vendem milhões de exemplares e as suas obras estão por todo o lado.
Depois do sucesso comercial que foi a trilogia Millenium, que nunca li, o mundo despertou para os policiais nórdicos. Começaram a chegar aos escaparates dezenas de títulos com lindas capas, brancas e manchadas a sangue como convém e a moda instalou-se.
Nunca fui um leitor de policiais, embora tenha passado por alguns livros pulp publicados pela Agência Portuguesa de Revistas e James Elroy que muito apreciei.
Munido de esperança e sabendo que os nórdicos além de terem bons políticos e mulheres bonitas fazem também boa música, imaginei que os policiais acompanhassem a qualidade de outras áreas. Uma amiga comum emprestou-nos o recente Lembro-me de ti da islandesa Yrsa Sigurdardóttir que ganhou o prémio de ficção policial nórdica.
Iniciei a leitura todo contente e até nasceu bem. Bom ambiente e coisas ruins e inexplicáveis a acontecerem. Aos poucos, não sei se por preguiça ou falta de jeito, os capítulos começaram a finalizar com as âncoras e as personagens com nomes esquisitos a falar todas da mesma maneira, sendo todas iguais, sem características que as diferenciassem umas das outras e aos poucos o ambiente foi parar às urtigas. A paciência esgotou-se quando um doente terminal, cuja situação clínica foi descrita pela autora como “O velho tinha piorado…Os papos sob os olhos estavam amarelados e, apesar da febre que se instalara, o seu rosto estava de uma palidez mortal. Nem a tosse lhe provocara cor nas faces. A única coisa que aquele fraco ruído seco causava era interferir naquilo que estava a dizer.”
Mas não, o raça do velho ficou em amena cavaqueira com o polícia, lembrando-se de todos os pormenores duma situação ocorrida há 40 anos nunca se sentindo cansado e até, pasme-se, debitando frases enormes e assertivas que muito úteis foram para o desvendar do mistério. Parei na página 160 a bufar o tempo perdido.
Que se lixem os policiais nórdicos, se é para isto não contem mais comigo!

Desenho de Tommy Kane

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Páginas perdidas

Na segunda-feira fiz um exercício de reflexão e fiquei muito contente de conseguir reflectir. Isso só aconteceu porque é Agosto e não temos muito que fazer aqui no trabalho. Essa, aliás, foi a minha primeira reflexão: se não tivesse um emprego tão estupidificante podia ser uma pessoa mais inteligente.
Isto tudo para informar que estive a matutar seriamente no que vai ser da literatura a partir de agora. Aqui fica o essencial:
É certo que, mais tarde ou mais cedo, toda a gente vai ter aquelas geringonças da Amazon para ler livros e jornais. São leves, não fazem mal aos olhos, podem ter centenas de livros lá dentro e já não vai ser necessário abater árvores para o fabrico de folhas, podendo as mesmas servir para a produção insana de panfletos de promoções de supermercados, catálogos de empresas de imobiliário ou flyers de serviços de desentupimento de canos e todo o tipo de obras ao domicílio.
Bem, o certo é que os livros no espaço duma década vão dar o berro. Vão-se transformar no vinil da literatura. Já vimos o mesmo a acontecer na música e no cinema. A pirataria atacou em força e são poucas as bandas que ganham alguma coisa com a edição dos seus discos, conseguindo os seus ganhos sobretudo em concertos. Esses safaram-se e no cinema também porque a experiência de assistir a um filme numa tela e num espaço escuro suplanta a qualidade dos ficheiros avi.
A minha pergunta é: Então, e os escritores? Se o futuro da literatura for o ficheiro .pdf, e antevendo que a facilidade de piratear seja a mesma que piratear o último álbum do Justin Bieber ou derradeiro filme do Twilight antes do escândalo do beijo, o que vai ser dos homens das letras? Haverá forma de conseguirem o sustento? Bem sei, que, no início de carreira, esta gente em Portugal ganha um cêntimo por exemplar vendido, mas imaginem o futuro da Margarida Rebelo Pinto, do Miguel Sousa Tavares, das bloggers que se lançaram agora no mundo da literatura, o que vai ser desta gente quando as suas maravilhosas e intemporais criações forem vilipendiadas por internautas sem escrúpulos? Como vão pôr pão na mesa?
O futuro também não se mostra muito risonho para as bibliotecas. Deixando de haver livros, em que moldes vão funcionar estes espaços?
Caramba, isso até pode afectar as estantes Ikea. A não ser que goste de encafuar bibelôs nelas, qual vai ser a sua utilidade?
Em última análise vai ser o fim de espaços como o Fnac, Bulhosa e Bertrand para já não falar na existência da feira do livro.
Isto não está nada com bom aspecto.

Desenho de Eduardo Salavisa

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Eu cá gostei

Quem me conhece sabe que não consigo desenhar nada de jeito. Sou muito bem intencionado, ando a praticar pelas ruas o meu traço e frequento, quando dá jeito, workshops de diários gráficos. Espero que qualquer dia a minha entrega a esta arte seja devidamente compensada.
Desde os tempos da disciplina de Educação Visual onde tinha muitas dificuldades em atingir um "3" até a estes workshops, estou habituado a ser o pior da turma. Mas não é coisa que me afecta e, para ser sincero, até acho que me dá um certo charme.
Seja como for, hoje, enquanto fazia a ronda pelos jornais, sou confrontado com a notícia dum restauro duma obra de arte em que a coisa não correu bem. A autora de tal façanha tinha 80 anos e, cheia de coragem, aventurou-se na empreitada, mas os resultados não foram nada do que se estava à espera.
Os comentários jocosos acabaram por surgir nas redes sociais e compreende-se, de facto, o recurso à piada.
Eu, que sou pessoa humilde, enalteço o esforço da senhora e confesso que não conseguiria fazer melhor. Pelo que sei uma equipa já está a tratar de resolver o assunto e desmanchar o trabalho árduo da octogenária, destruindo sem escrúpulos a originalidade da coisa.
Tenho pena!



terça-feira, 21 de agosto de 2012

Cidade

Esta é a rua Joaquim Bonifácio que vejo da varanda do sítio onde trabalho.
Há dez anos, quando  vim trabalhar para aqui havia mais azáfama. Carros a subir e a descer todos os dias e a todas as horas. O trânsito não parava e quando chovia não havia previsão do tempo de espera.
Os tempo mudaram. O preço da gasolina, o desemprego e a subida dos impostos amainaram a animação da estrada. Já são poucos os automóveis que por aqui passam e já não me lembro da última vez que alguém buzinou por impaciência.
O Gabriel quando viu o desenho gritou que era a cidade e eu fiquei contente por fazer algo reconhecível para uma criança de três anos.