quinta-feira, 14 de março de 2019

Passear com pavões

Há sempre uma boa emoção que me surge quando temos de sair para ir a algum lado. Prefiro ir só com eles. Existe uma calma e um repouso que só atinjo quando estamos a caminhar os três juntos. Essa sensação está muito associada ao Museu da Cidade. É engraçado porque é um Museu um tanto ao quanto marginal e nem sequer deve aparecer nos guias turísticos.  Existe um romantismo muito próprio no jardim, propositadamente descuidado, com aqueles pavões que parecem ser cada vez mais vaidosos sempre que lá vamos e as ervas a crescer desalinhadas a cobrir bancos e restos de estátuas partidas abandonados por lá.

A energia é boa e tiramos muitas fotos porque existe sempre uma imagem nova que nos surge.


quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Menu Infantil

O Gabriel vem comigo muitas vezes para o escritório. Fica por lá a ver vídeos, a ler e não chateia nada. Durante os períodos de férias são muitos as crianças que vão para lá. Não há sítio para as deixar e a melhor opção é ficarem sentadas numa cadeira qualquer a passar o tempo em frente ao computador. Eles não se queixam, até porque ao almoço já sabem que vão comer pizza ou um hambúrguer num dos restaurantes das redondezas.


segunda-feira, 28 de agosto de 2017

Sair do sofá

Os dias passados na Shalouba são mais tranquilos e compensadores do que os dias que passamos em casa. O Gabriel pode andar a brincar na rua com os miúdos que aparecem por lá. Jogam à bola, jogam no Tablet, correm do lado para o outro e chateiam-se uns com os outros. É bom vê-lo a fazer outras coisas para além de jogar Playstation ou ver vídeos do Youtube. É uma forma de ele crescer mais depressa e desenvolver algumas capacidades físicas e sociais.
Ao mesmo tempo nós falamos mais. Eu desenho um bocado, tu lês um bocado, fazemos um scroll desinteressado pelas redes sociais e os dias assim, naquela esplanada, parecem mais preenchidos e menos monótonos.
Numa tarde os miúdos estavam a brincar e conseguiram colocar, sem querer, uma bola nos ramos duma árvore. Os miúdos ficaram para ali a tentar tirar o esférico dos arbustos e não conseguiam resolver o problema. Ficámos a olhá-los e tu começaste a desafiar-me para ir lá, resgatar aquela ansiedade infantil. Lá me convenceste e com uma garrafa cheia de água, para ser pesada, tentei desprender a bola o que consegui após algumas tentativas. As crianças depositaram muitas esperanças em mim e ter correspondido às expectativas fê-los bater palmas e dar urras de contentamento. Quando regressei tu estavas a sorrir, parecias impressionada com um feito tão banal e perguntaste-me se me sentia o herói da criançada.

As coisas são sempre mais divertidas quando estamos fora de casa.

sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Bright are the stars that shine

Hoje sonhei que estávamos numa loja em Liverpool e foste à casa de banho. Enquanto saíste de ao pé de mim, fiquei a ver os produtos e quis-te oferecer uma prenda sem saberes. Eles tinham lá uma pilha de singles, em vinil, em que grandes nomes da música cantavam uma música dos Beatles. Procurei na pilha e encontrei um exemplar em que o Kurt Cobain cantava o And i lover her. Fiquei mesmo doido para te oferecer aquilo. Só que havia o problema de não terem a gravação em nenhum outro formato a não ser em vinil. Matutei se, mesmo assim, mesmo não tendo um gira-discos em casa te haveria de comprar o disco, para teres a felicidade do objecto. Acabei por não comprar por achar não ter sentido teres uma coisa que não pudesses usufruir.
E sabes o que é curioso? É que, o Kurt Cobain gravou mesmo a canção. Já viste isto? Não sabia disso, juro que não sabia.


A carregar

Queixas-te muito dos telemóveis. As baterias ficam sempre estragadas e chegas a um ponto em que já é impossível conseguires fazer o que quer que seja.  Por isso estás sempre a comprar telemóveis, um ano e meio em um ano e meio e raramente ficas contente com eles.
Mas hoje li uma coisa que devias saber. Eis o que fazer para que as tuas baterias durem mais. Isto vem em sites de tecnologia:
. Não deves deixar o telemóvel a carregar a noite toda.
. Não deves usar o telemóvel enquanto o carregas.
. Não deves carregar o telemóvel no computador
. Não deves deixar acabar a carga totalmente
. Não deves deixar a carga chegar aos 100%

É incrível como fazemos tudo mal.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

Cinco estrelas

Ela gosta de ler depois de ver os filmes. As críticas e as curiosidades. Às vezes concorda outras não. Enquanto lê a quantidade informação que acha necessária para perceber melhor o que assistiu, deitada no sofá, vai-me resumindo em voz alta o que acha mais interessante. Uma vez ficou muito aborrecida porque um crítico achou que a mulher no filme Paterson era talentosa e uma força da Natureza.  
- Nem pensar, acho-a insuportável, chata e atrasa a vida daquele homem que tem de se refugiar na cave para poder escrever a sua poesia. Como é que um crítico de cinema pode escrever uma coisa destas?
No Dunkirk, por exemplo, achou porreira a construção de tempo e ficou satisfeita por saber que o núcleo aéreo correspondia a uma hora porque era o tempo que os aviões conseguiam voar com o tanque cheio. Gostou muito do Dunkirk. Eu também. Sempre que um filme nos toca sentimo-nos mesmo aliviados.


quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Queimar a pestana

O que precisamos é de um bom, dissemos-lhe. Não há problema nenhum se não tiveres, mas gostávamos que tivesses um bom. Basta um, à disciplina que quiseres. Ficaríamos muito contentes.
Tá bem. – prometeu.

Mason & Barry

A Mina de São Domingos é um sítio delicioso.  Pelo menos assim o achávamos. Perdido no interior alentejano, onde as estradas serpenteiam numa dolorosa dança, chegar até lá é árduo. O sol queima empenhado o metal do carro durante toda a viagem e quando se deixa o conforto do ar condicionado e se saí para fora é difícil não soltar um foda-se.

Nos primeiros anos andávamos apaixonados pelo sítio. Queríamos tanto encontrar um lugar só nosso que foi muito fácil adotar a Mina.  Gostávamos da calma, da simplicidade de tudo, dos preços, das pessoas, da falta de rede no telemóvel e do isolamento a que estávamos confinados. Fascinámo-nos com os despojos industriais, a água sempre quentinha, o encanto da pizzaria cheia numa terra isolada, as escolas enormes para poucos alunos e o circo saltimbanco que durava umas quatro horas. Ela emocionava-se no cemitério inglês e deliciava-se com qualquer gaspacho que lhe servem e dava o peixe frito ao Gabriel que o comia com o seu ar de esquilo a dar dentadinhas numa bolota.

O pôr-do-sol batia tudo. No pequeno areal conseguíamos estar a tomar banho com o sol a despedir-se, a luz do dia a desvanecer-se por trás das arvores da tapada. Era um momento pelo qual valia a pena fazer toda aquela viagem. Era o instante em que percebíamos que aquela era também a nossa casa.

Mas este ano já não sentimos o amor habitual. A falta de novidades e de interesses que pudessem ser explorados deixou-nos aborrecidos. As mesmas pessoas, a mesma comida, os mesmos restaurantes, o mesmo circo, o mesmo percurso que nos levava à praia e o mesmo calor que nos remetia para o fresco do ar condicionado de casa. Sem rede de telemóvel tornava-se ainda mais difícil mitigar o silêncio. Então esperámos, esperávamos que os dias passassem para podermos sair dali e voltar ao ruído da cidade.

Mas, enquanto percorríamos a auto-estrada no regresso, longe das curvas e das contra- curvas das estradas nacionais, interrogamo-nos se nós, tal como a Mina, também continuamos iguais ao que eramos há quatro anos. Na verdade, o problema pode não ser daquela terra de gente generosa e simpática mas antes nosso. Qual a urgência que temos de sentir um abanão para podermos apaixonarmo-nos pelas coisas outra vez?

terça-feira, 22 de agosto de 2017

Pipocas

Ontem ficou desiludida com o episódio da Guerra dos Tronos. Achou tudo banal e a narrativa estava tão rápida que parecia retirada dum Blockbuster de Verão. A melhor história jamais contada como lhe chama o marido, estava agora descaracterizada, sem alma e sem a profundidade que fazia das segundas feiras um dia tão especial. Mesmo assim, diz ela, já agora, gostava de saber para onde isto vai.