quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Páginas perdidas

Na segunda-feira fiz um exercício de reflexão e fiquei muito contente de conseguir reflectir. Isso só aconteceu porque é Agosto e não temos muito que fazer aqui no trabalho. Essa, aliás, foi a minha primeira reflexão: se não tivesse um emprego tão estupidificante podia ser uma pessoa mais inteligente.
Isto tudo para informar que estive a matutar seriamente no que vai ser da literatura a partir de agora. Aqui fica o essencial:
É certo que, mais tarde ou mais cedo, toda a gente vai ter aquelas geringonças da Amazon para ler livros e jornais. São leves, não fazem mal aos olhos, podem ter centenas de livros lá dentro e já não vai ser necessário abater árvores para o fabrico de folhas, podendo as mesmas servir para a produção insana de panfletos de promoções de supermercados, catálogos de empresas de imobiliário ou flyers de serviços de desentupimento de canos e todo o tipo de obras ao domicílio.
Bem, o certo é que os livros no espaço duma década vão dar o berro. Vão-se transformar no vinil da literatura. Já vimos o mesmo a acontecer na música e no cinema. A pirataria atacou em força e são poucas as bandas que ganham alguma coisa com a edição dos seus discos, conseguindo os seus ganhos sobretudo em concertos. Esses safaram-se e no cinema também porque a experiência de assistir a um filme numa tela e num espaço escuro suplanta a qualidade dos ficheiros avi.
A minha pergunta é: Então, e os escritores? Se o futuro da literatura for o ficheiro .pdf, e antevendo que a facilidade de piratear seja a mesma que piratear o último álbum do Justin Bieber ou derradeiro filme do Twilight antes do escândalo do beijo, o que vai ser dos homens das letras? Haverá forma de conseguirem o sustento? Bem sei, que, no início de carreira, esta gente em Portugal ganha um cêntimo por exemplar vendido, mas imaginem o futuro da Margarida Rebelo Pinto, do Miguel Sousa Tavares, das bloggers que se lançaram agora no mundo da literatura, o que vai ser desta gente quando as suas maravilhosas e intemporais criações forem vilipendiadas por internautas sem escrúpulos? Como vão pôr pão na mesa?
O futuro também não se mostra muito risonho para as bibliotecas. Deixando de haver livros, em que moldes vão funcionar estes espaços?
Caramba, isso até pode afectar as estantes Ikea. A não ser que goste de encafuar bibelôs nelas, qual vai ser a sua utilidade?
Em última análise vai ser o fim de espaços como o Fnac, Bulhosa e Bertrand para já não falar na existência da feira do livro.
Isto não está nada com bom aspecto.

Desenho de Eduardo Salavisa

12 comentários:

  1. Eu cá estarei, de carne e osso, meu marido!

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  2. Ainda bem que não matutaste sobre o futuro das tradutoras! Mas suponho que as versões em pdf também precisam de ser traduzidas, não é?...

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  3. mas matutaste sobre o meu futuro pá!!!XÔ AVE AGOIRENTA!!!!!

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  4. Talvez se cortem intermediários, como editores e livrarias, e os autores disponham as obras para venda directamente aos leitores a um preço mais barato para os Kindles e outros que tais...

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  5. Sim, na verdade se se retirar do processo os intermediários, o custo do livro baixa significativamente.

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  6. é horrível Melissa,vê só o que me estão a fazer!!!!

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  7. A Amazon já não dá conta. Os e-books que eles vendem já são pirateados e os autores não vêem um tusto de direitos de autor. não sei se o papel será substituído assim tão depressa pelo digital... é isso, os autores não têm shows pra dar pra promover os livros e ganhar dinheiro com isso, e já era assim antes, os músicos ganham dinheiro nos concertos, nao na venda de CD. enfim... acho que a solução tem de ser baixar os preços, haver menos gente a querer ganhar dinheiro à conta dos artistas, os que menos ganham com a sua arte.

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  8. Tendo em conta que as geringonças conseguem ler pdf, mesmo que um livro físico seja comprado é facilmente transformado em pdf. Não estou muito optimista quanto ao futuro da literatura.

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