sexta-feira, 24 de agosto de 2012

O leitor precisa de respeito

Nunca gostei da nova literatura a que alguém chamou, e muito bem, de literatura de aeroporto. É uma escrita rápida, vazia e com técnicas de argumento de mau cinema. Os capítulos são curtinhos, cerca de duas páginas, para o leitor, coitadinho, não se cansar e que terminam sempre com uma meia revelação que serve de âncora para o capítulo que virá daqui a duas ou três páginas, jogando artificialmente com a curiosidade do fantoche que está a ler aquilo.
Detesto isso. Li O código da Vinci e pronto fiquei doente uma semana. A Melissa, que até gosta destas coisas, não fosse ela argumentista, comprou uma merda qualquer do José Rodrigues dos Santos e só a ouvia dizer “Oh Meu Deus” e cansada de tanta trapalhada foi à livraria pedir o dinheiro de volta e, imagine-se, eles devolveram.
Mas esta praga espalha-se como doenças num infantário e existem escritores a fazer uma rica vida disto. Vendem milhões de exemplares e as suas obras estão por todo o lado.
Depois do sucesso comercial que foi a trilogia Millenium, que nunca li, o mundo despertou para os policiais nórdicos. Começaram a chegar aos escaparates dezenas de títulos com lindas capas, brancas e manchadas a sangue como convém e a moda instalou-se.
Nunca fui um leitor de policiais, embora tenha passado por alguns livros pulp publicados pela Agência Portuguesa de Revistas e James Elroy que muito apreciei.
Munido de esperança e sabendo que os nórdicos além de terem bons políticos e mulheres bonitas fazem também boa música, imaginei que os policiais acompanhassem a qualidade de outras áreas. Uma amiga comum emprestou-nos o recente Lembro-me de ti da islandesa Yrsa Sigurdardóttir que ganhou o prémio de ficção policial nórdica.
Iniciei a leitura todo contente e até nasceu bem. Bom ambiente e coisas ruins e inexplicáveis a acontecerem. Aos poucos, não sei se por preguiça ou falta de jeito, os capítulos começaram a finalizar com as âncoras e as personagens com nomes esquisitos a falar todas da mesma maneira, sendo todas iguais, sem características que as diferenciassem umas das outras e aos poucos o ambiente foi parar às urtigas. A paciência esgotou-se quando um doente terminal, cuja situação clínica foi descrita pela autora como “O velho tinha piorado…Os papos sob os olhos estavam amarelados e, apesar da febre que se instalara, o seu rosto estava de uma palidez mortal. Nem a tosse lhe provocara cor nas faces. A única coisa que aquele fraco ruído seco causava era interferir naquilo que estava a dizer.”
Mas não, o raça do velho ficou em amena cavaqueira com o polícia, lembrando-se de todos os pormenores duma situação ocorrida há 40 anos nunca se sentindo cansado e até, pasme-se, debitando frases enormes e assertivas que muito úteis foram para o desvendar do mistério. Parei na página 160 a bufar o tempo perdido.
Que se lixem os policiais nórdicos, se é para isto não contem mais comigo!

Desenho de Tommy Kane

11 comentários:

  1. MATO-TE!!!!MATO-TE!!!!!!ISTO É STALKING!!!!!PRIMEIRO É O MEU EMPREGO E AGORA OS MEUS LIVROS ARGHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

    (esquisitinho hein?)
    (a minha avó diria:tu não tens é paladar!)

    grrrrrrrrr

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  2. Oh! A senhora anda ali a fazer uma pessoa de parva...

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  3. Confesso que partilho a embirração por capítulos pequeninos com isco no fim... é um bocado fazer do leitor um burro que precisa da cenoura para avançar no livro...

    Ó Hugo, eu se fosse a ti tinha cuidado com a perseguição encapotada à pekala... é que ela mora no Intendente, pá!!!!!

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  4. Ela é boa pessoa, gosto muito dela, mas está sempre no blogue errado e na hora errada.

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  5. EU PRECISO DE CENOURA PARA AVANÇAR NO LIVRO!

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  6. Eu adorei :) Mas está longe de ser um livro policial. É um livro de cagaço. Juro-te que fiquei borrada e é difícil borrar-me com um livro.
    Os capítulos com âncoras, levaram-me a crer que ela escreve com vista ao guião, mas neste caso não me chateou.

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  7. A única literatura para a qual perdi a paciência, foi o romance feminino light, para carentes suspiradoras do coração. De resto, venham eles (Tosltoi e Turgenev incluídos). Tudo depende de como me sinto.
    "Hoje quero cagaço" "Hoje estou numa de lacrimejar" "Hoje preciso de uma merda que me faça pensar" "Hoje não tenho ânus para mistérios da treta-tipo-Uma-Aventura-Para-Adultos" "hoje quero um épico".

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  8. no blogue errado e na hora errada????
    ó céus,pirei de vez.

    a Yrsa a fazer as pessoas de parvas?????
    tu também piraste Hugo,mas eu perdoo-te não só porque sou uma alma boa e caridosa como tem estado bastante calor e além disso tens dedicado muito tempo às artes.ora toda a gente sabe que os artistas são loucos.

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  9. Eu não preciso de cenoura, se for mesmo bom!
    de resto, sofro de uma estranha patologia emocional que me impede de deixar livro a meio. Só abro excepção para o saramago. esse até deixo de ler na página 10...

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