A Melissa foi a minha cobaia humana e apesar de ser uma boa cobaia, com espírito crítico e essas coisas todas, tal experiência não pode ter, para os devidos efeitos, qualquer validade científica. Seja como for e como alguma gente ligada às ciências gosta muito de bradar, o que resulta com uma pessoa pode não resultar com outra.
Comecei a anotar o comportamento da minha cobaia numa noite em que se tivera queixado do cansaço. Trabalhei nas tarefas domésticas com afinco para que a cobaia não desperdiçasse muito tempo com elas por forma a que, nesse dia, fosse para o sofá mais cedo.
Sentada no sofá, comecei a despertar-lhe alguma raiva andando a surfar nos conteúdos gravados na box e também no disco externo. Nomes de filmes, séries ou documentários como Boogie Nights, Mal nascida, A separação, Neil Young – Heart of Gold, Dexter, Weekend, entre outros foram surgindo no monitor. Tudo coisas com o seu valor cultural, claro está.
A cobaia rapidamente se apercebeu dos meus intentos e avisou que não queria ver nada exigente e que lhe apetecia ver televisão. Rejeitada a minha oferta dei-lhe o comando para a mão.
Aqui fica um registo do que se viveu:
10 minutos de passagem pelos canais em que cada um não foi sintonizado mais do que 5 segundos.
15 minutos no TLC para ver as noivas ciganas
15 minutos de publicidade pré Casa dos Segredos
45 minutos Casa dos Segredos
5 minutos de publicidade
10 minutos de Zapping descontrolado sem fim em vista
5 minutos de publicidade
30 minutos de Casa dos Segredos (por acaso foi fixe porque havia lá uma concorrente a abanar o rabo)
A cobaia adormeceu profundamente.
Tempo passado à frente ao Televisor: 140 minutos
No dia seguinte, fiz o mesmo mas, coloquei logo um episódio do Dexter a rodar para que quando se sentasse no Sofá, a cobaia fosse confrontada com algo palpável para seguir.
Como esperava, a cobaia ia tecendo ao longo dos 40 minutos considerações ao episódio e à qualidade da série, chegando facilmente ao fim do episódio sem que, durante esse tempo, tivesse pedido para que a televisão fosse desligada. A cobaia desfez-se em elogios e não teve necessidade de ver o que se passava na Casa dos Segredos.
Noutro dia, procedi ao mesmo com o documentário Wasteland sobre o trabalho do artista brasileiro Vik Muniz. Desta vez estava também o pai da cobaia que, por acaso, só gosta de ver notícias. Como seria de esperar assistiram os dois ao documentário e ficaram muito felizes de terem presenciado o mesmo.
Conclusões: Parece-me que o cérebro segue qualquer coisa a que seja confrontado. Não me parece que fique cansado por ver a Petra em Bikini ou o Dexter a escolher a sua próxima vítima, embora se estivéssemos a falar de pénis a coisa fosse diferente.
O que se passou tanto no episódio do Dexter como no documentário foi que a minha cobaia seguiu o que estava a ver e que, se lhe fosse dado a escolher não optaria por ver nenhum dos programas mencionados, atirando toda a família para as peripécias dum reality show.
Uma coisa é descansar o cérebro outra é atrofiá-lo.
desenho de Matt Groening
Olha mais um teórico.
ResponderEliminarJá exploraste a funcionalidade da box, que te permite ver tudo aquilo que deu em todos os canais, durante uma semana???!!!! Eu já nem gravo nada :)
ResponderEliminarQuanto ao resto, Melissa, eu processava-o por expor assim os teus comportamentos primatas, quando confrontada com a tv.
eu nego até à morte! Isso é tudo intriga dele.
ResponderEliminarNão há ninguém que me consiga obrigar a ver a Casa dos Segredos! Renego!
ResponderEliminarIsto é um sábio que tu tens em tua casa, Melissa. Para quê gnomos?
ResponderEliminarTambém lhe acendo uma vela ou outra de vez em quando, gralha.
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