quarta-feira, 23 de agosto de 2017

Mason & Barry

A Mina de São Domingos é um sítio delicioso.  Pelo menos assim o achávamos. Perdido no interior alentejano, onde as estradas serpenteiam numa dolorosa dança, chegar até lá é árduo. O sol queima empenhado o metal do carro durante toda a viagem e quando se deixa o conforto do ar condicionado e se saí para fora é difícil não soltar um foda-se.

Nos primeiros anos andávamos apaixonados pelo sítio. Queríamos tanto encontrar um lugar só nosso que foi muito fácil adotar a Mina.  Gostávamos da calma, da simplicidade de tudo, dos preços, das pessoas, da falta de rede no telemóvel e do isolamento a que estávamos confinados. Fascinámo-nos com os despojos industriais, a água sempre quentinha, o encanto da pizzaria cheia numa terra isolada, as escolas enormes para poucos alunos e o circo saltimbanco que durava umas quatro horas. Ela emocionava-se no cemitério inglês e deliciava-se com qualquer gaspacho que lhe servem e dava o peixe frito ao Gabriel que o comia com o seu ar de esquilo a dar dentadinhas numa bolota.

O pôr-do-sol batia tudo. No pequeno areal conseguíamos estar a tomar banho com o sol a despedir-se, a luz do dia a desvanecer-se por trás das arvores da tapada. Era um momento pelo qual valia a pena fazer toda aquela viagem. Era o instante em que percebíamos que aquela era também a nossa casa.

Mas este ano já não sentimos o amor habitual. A falta de novidades e de interesses que pudessem ser explorados deixou-nos aborrecidos. As mesmas pessoas, a mesma comida, os mesmos restaurantes, o mesmo circo, o mesmo percurso que nos levava à praia e o mesmo calor que nos remetia para o fresco do ar condicionado de casa. Sem rede de telemóvel tornava-se ainda mais difícil mitigar o silêncio. Então esperámos, esperávamos que os dias passassem para podermos sair dali e voltar ao ruído da cidade.

Mas, enquanto percorríamos a auto-estrada no regresso, longe das curvas e das contra- curvas das estradas nacionais, interrogamo-nos se nós, tal como a Mina, também continuamos iguais ao que eramos há quatro anos. Na verdade, o problema pode não ser daquela terra de gente generosa e simpática mas antes nosso. Qual a urgência que temos de sentir um abanão para podermos apaixonarmo-nos pelas coisas outra vez?

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